Conheci
o Rodrigo Aragão em 2008, quando um dos meus filmes, o curta-metragem "GATO”
estava participando de um festival aqui em São Paulo. Ele estava ministrando
uma oficina de maquiagem e resolvi participar, pois já conhecia o seu trabalho
pelo o incrível longa-metragem que dirigiu chamado “Mangue Negro”.
Me
lembro de ser muito bem recebido por ele e a produtora e atriz Mayra Alarcón
(na época sua namorada, hoje esposa) que tinham assistido e gostado muito de um
filme meu chamado “O Assassinato da Mulher Mental” (2007). Houve uma
identificação imediata entre nós, pois tínhamos as mesmas referência e os
mesmos sonhos; crias do cinema dos anos 1970 e 1980 que queriam viver fazendo
filmes de terror.
Em
2010, além de realizar seus filmes, o Rodrigo fez um festival de cinema em
Guarapari (sua cidade natal, que fica no estado do Espírito Santo) chamado
“Cine Terror na Praia” e exibiu meus filmes no evento. Fiz questão de
prestigiar o festival pessoalmente e ali a nossa amizade se solidificou. Além
de ser muito bem recebido por todos da “ Fábulas Negras Produções” (produtora
do Aragão) recebi um convite irrecusável, participar do próximo filme dele, que
se chamaria “A noite do Chupacabras”. Claro que aceitei, mas não poderia
esperar que o papel para o qual ele me chamara era o de Douglas Silva, um dos
protagonistas da história. Foi uma aventura de aprendizado e superação que
ajudou a moldar parte de minha carreira até hoje. Isso é o mais bacana do trabalho
do Rodrigo, ele desafia a todos e principalmente a si mesmo para fazer o
melhor, mesmo nas condições mais adversas.
Depois
disso trabalhei no filme “Mar Negro” onde o Rodrigo reuniu cineastas, atores e
profissionais de todo Brasil e de fora dele para participarem. Foi uma
experiência incrível e deliciosamente irresponsável, pois a cada pessoa que
aparecia no set, tínhamos que bolar história para seus personagens, muitas
vezes horas antes de começarmos a gravar. Claro que deu tudo muito certo e essa
mistura maluca resultou em um filme colorido, multiétnico e universal, com
direito a zumbis na praia sendo esmagados por uma baleia gigante e uma travesti
empunhando uma metralhadora em uma das cenas mais memoráveis do cinema de
terror nacional. Onde mais pode se ver isso?
O
próximo passo de Rodrigo foi bem audacioso, em 2014 ele decidiu reunir
diretores com quem se identificava para um filme de antologia chamado “As
Fábulas Negras”. Assim, eu, Petter Baiestorf, Marcelo Castanheira e José Mojica
Marins (o nosso mestre Zé do Caixão) pudemos dar vida a “Loira do Banheiro”, o
lobisomem de “Pampa Feroz” e “O Saci” (respectivamente). Rodrigo ainda
completou o filme com duas histórias, “O Monstro do Esgoto” e “A casa de Iara”
além do segmento das crianças na mata que ligou de forma magistral os contos de
cada diretor. Esse projeto foi muito especial, ali pude conhecer o aspecto
produtor executivo do Rodrigo que além das incríveis maquiagens, cuidava dos
bastidores (ao lado de Mayra Alarcón) para que tudo corresse perfeitamente para
cada diretor. Estive nas filmagens de dois segmentos, o meu (A loira do
Banheiro) é claro e “O Saci”, no qual pude trabalhar como assistente de direção
do Mojica (um dos momentos mais incríveis da minha carreira). O Rodrigo nos deu
liberdade total para que cada um conseguisse imprimir sua marca nos curtas, nos
deixando a vontade para conduzirmos a história da forma que desejávamos e por
isso acredito que “As Fábulas Negras” seja um filme tão interessante, pois ele
soube conduzir o projeto como um todo para que houvesse coerência estética e
qualidade artística, mas sem tolher a criatividade dos diretores envolvidos,
essa é uma característica de um bom líder com certeza.
Em
2017 filmamos o longa-metragem “A Mata Negra”, onde pude trabalhar como
assistente de direção do Rodrigo. Com um orçamento maior obtido por meio de
leis de incentivo, esse trabalho teve uma produção bem mais encorpada que os
demais, ainda não é o ideal, mas comparado aos filmes que fizemos juntos
anteriormente foi um prato cheio para exacerbar ainda mais a imaginação do
diretor. Não posso falar muito da história ainda, mas as filmagens ocorreram em
2 meses, e o processo todo foi incrível. A condução do Aragão nesse filme foi
muito precisa, ele sabia exatamente o que queria em cada take, resultado de uma
pré-produção muito extensa e detalhada que propiciou uma tranquilidade como nunca
tivemos no set de filmagem. É um filme diferente dos anteriores, com uma
história mais centrada nos personagens e nas consequências de seus atos, mas
sem perder os momentos assustadores e sangrentos que fazem parte do trabalho do
diretor. Há cenas incríveis de efeitos especiais que com certeza irão nos
deixar boquiabertos, não vejo a hora de vê-lo nas telas do cinema.
A
paixão do Rodrigo Aragão pelo cinema fantástico é uma inspiração para todos
gostam e que um dia pensaram em fazer cinema de gênero no Brasil. Eu já fazia
filmes quando conheci seu trabalho, mas quando vi o “Mangue Negro” pela
primeira vez tive a certeza estava
diante de um divisor de águas. É tão inventivo, tão bem feito, com tanto
coração que nos inspirou a fazermos filmes cada vez melhores e com certeza
impactou e mudou o cenário de filmes de terror independentes nacionais.
Rodrigo
Aragão já escreveu seu nome nos livros da história do cinema e fico muito feliz
em poder contribuir um pouco com tudo isso, mas esse é só o começo. Que venham
mais filmes sangrentos e divertidos da “Fábulas Negras Produções”.
Mostra “As Fábulas Negras de Rodrigo Aragão”, de 19 a 25 de abril, na Sala
Walter da Silveira (Rua General Labatut, nº 27, subsolo da Biblioteca Pública dos
Barris - Fone: 3116-8120). Sessões sempre às 17h. Entrada franca.
Realização: Pig Arts e Gore Bahia. Apoio: Fundação Cultural
do Estado da Bahia (FUNCEB), através da sua Diretoria de Audiovisual (DIMAS)
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